POEMA ÀS CORES, de Vieira Caldo Atenta nesta paleta de cores estes sinais de opulência da luz breve símbolos que acordam a manhã dos nossos olhos para a flor do sol que insistem na múltipla transfiguração das imagens que dão forma às nossas vidas; repara no preto e no branco como se a sinfonia dos acasos não fosse mais que a simetria dos ocasos ou no azul que desfalece os matizes infindáveis do cinzento que vai nos olhos, no sangue de cada um porque é o sol magenta dos alvores matinais que trai os sonhos da madrugada a reflexão das cores e do entendimento. Vê como o verde decai em tonalidades martirizadas pelo ocre e o amarelo sustentando a linha melódica dos barros; Observa a cor do céu na fria latitude dos gelos glaciares, na transparência da água dos oceanos resolvida em anémonas e corais de luz. Atenta no rosa dos frutos da primavera | entre as folhas a captar o sol para a maturidade corrompida pelo granizo onde a imagem da noite baila no esmorecimento das cores e a sua ausência o negro .....o presente persistindo .....curvado à sapiência do eterno. Atenta nas cores e ouve o timbre os tons da música capazes de trazer violetas e rosas ao patamar da euforia o clímax de licores de carmim e rosa em púrpura desfeita virgindade na face da menina já mulher. Lê a tua sina em esmeraldas e em rubis cristalizados proscritos até ao fim do tempo ou o ébano das noites frias envenenando o brilho diáfano de ametistas e turquesas que resolvem a cinza em azul e oiro e vê como tudo se encaminha para um grande abraço num arco-íris que vincula a terra à terra o sangue ao rubro sangue das entranhas dum vulcão que derrama todas as cores, os símbolos e os signos o magma que há de florescer nas sensações a percepção subjectiva do real. |
Salvador Dalí. A Persistência da Memória. 1931
óleo sobre tela, 24 x 33 cm